domingo, 23 de março de 2014

“Brother’s Grimm homeland”: belas e fantasmagóricas fotografias que nos levam aos contos, e que deles surgiram.




Série de fotografias inspiradas em contos maravilhosos, principalmente os que ficaram populares pelas coletas dos Irmãos Grimm.  A série chamada Brothers Grimm Homeland mais parece ser um conjunto imagens de cenários fílmicos. O fotógrafo alemão Kilian Schoenberger é também geógrafo, amante de áreas rurais e espaços onde quem dita as regras é a floresta. 



- "Enquanto os outros estão fazendo ioga, eu subo montanhas na escuridão da noite. Mergulho em meu próprio mundo tranquilo passo a passo. O ritmo estóico da caminhada através da escuridão, a iminente suavemente madrugada e, finalmente, o momento gratificante quando eu chego ao meu local final". diz o fotógrafo.

E então surgem os registos fotográficos.


Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 01

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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 02
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 03
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 04
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 05
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 06


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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 07
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 08
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 11


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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 12
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 13
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 14
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 15
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Os contos de fadas dos irmãos Grimm ilustrados nas fotografias fantasmagóricas de Killian Shoenberger 16
Fonte: My Modern Met.

terça-feira, 18 de março de 2014

Humanidade [por Georg Trakl]




Humanidade posta ante abismos de chama,
Um rufo de tambores, frontes de guerreiros tenebrosos,
Passos pela névoa de sangue; negro ferro exclama;
Desespero, noite em cérebros pesarosos;
Aqui a sombra de Eva, caça e rubra dinheirama;
Nuvens que a luz atravessa, vespertina refeição.
Em pão e vinho deve um doce silêncio residir.
E aqueles lá reunidos, doze são.
À noite sob ramos de oliveira gritam ao dormir;
São Tomé mergulha na ferida a mão.


IN: De profundis e outros poemas.
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1914. Após a batalha de Grodek, na Galícia, 90 feridos graves do exército austríaco são entregues, num celeiro, aos cuidados de um tenente. Mero farmacêutico, quase sem remédios, ele pouco pode fazer. Do lado de fora, desertores são enforcados. Um dos feridos se mata, com um disparo, em sua presença. Ele também tenta o suicídio. Mas só obtém sucesso posteriormente, na segunda tentativa. Idade: 27 anos. Nome: George Trakl.

A era do homem mimado

Por Ortega Y Gasset


      O homem vulgar resolveu governar o mundo. Esta resolução de avançar para o primeiro plano social produziu-se nele, automaticamente, mal chegou a amadurecer o novo tipo de homem que ele representa. Se atendendo aos defeitos da vida pública, estuda-se a estrutura psicológica deste novo tipo de homem-massa, encontra-se o seguinte: 
1º uma impressão nativa e radical de que a vida é fácil, abastada, sem limitações trágicas; portanto, cada indivíduo médio encontra em si uma sensação de domínio e triunfo que, 2º o convida a afirmar-se a si mesmo tal qual é, a considerar bom e completo seu haver moral e intelectual. Este contentamento consigo o leva a fechar-se em si mesmo para toda instância exterior, a não ouvir, a não pôr em tela de juízo suas opiniões e a não contar com os demais. Sua sensação íntima de domínio o incita constantemente a exercer predomínio. Atuará, pois, como se somente ele e seus congêneres existissem no mundo, portanto 3º intervirá em tudo impondo sua vulgar opinião.

Este repertório de feições fez com que pensássemos em certos modos deficientes de ser homem, como o "menino mimado" e o primitivo rebelde; quer dizer, o bárbaro. (o primitivo normal, pelo contrário, é o homem mais dócil a instâncias superiores que jamais existiu - religião, tabus, tradição, costumes - ) [...] 

Este personagem, que agora anda por toda a parte e onde quer impor sua barbárie íntima, é, com efeito, o garoto mimado da história humana. O garoto mimado é o herdeiro que se comporta exclusivamente como herdeiro. Agora a herança é a civilização -as comodidades, a segurança; em suma, as vantagens da civilização. Insisto com leal desgosto em fazer ver que este homem cheio de tendências incivis, que este novíssimo bárbaro é um produto automático da civilização moderna.



Capítulo XI - A época do mocinho satisfeito. IN: A Rebelião das massas.

segunda-feira, 10 de março de 2014

O sentimento de dor [por Alberto Buela]

"Não há exigências mais corretas que as quais as dores provocam à vida"
Ernst Jünger 





A civilização da técnica, civilização qual estamos imersos, conseguiu eliminar muitas causas de dor e criar um monte de prazeres, mas apenas nas áreas mais superficiais do sentimento. Assim, no campo das sensações há avanços extraordinários desde a anestesia até a terapia neuronal . Nos sentimentos vitais no que diz respeito ao organismo vivo que se manifestam o esgotamento ou o vigor, a tranquilidade ou o medo, a sensação de saúde ou enfermidade, têm havido muito menos progresso. 

O mesmo com os sentimento referidos "ao eu", onde o sentimento não depende mais da situação como nos casos anteriores, mas se volta ao intencional e ao captar de valores. Finalmente, então, temos os sentimentos espirituais ou metafísicos onde nossa civilização só trouxe frustração, se não desespero.

A respeito disso afirma o filósofo Max Scheler: "O conceito superior mais formal e geral que se pode por todo sofrimento (desde a sensação de dor até o desespero metafísico-religioso) me parece que é o conceito de sacrifício" [1]

Agora , todo sacrifício é algo e esse algo é o que dá sentido à dor. O sacrifício de um bem de ordem inferior ( dor física ) é dado em troca de um bem ordem superior (bem-estar da família ) . O soldado ferido na guerra é entregue pelo país. Da dor do parto depende o filho que nascerá. Aparece aqui a relação entre a parte que se entrega em prol de um todo.
Assim, a dor sob a categoria de sacrifício é entendida "em vez de ", devemos distinguir aqui de algofilia  que é a perversão que consiste em um desejo de dor física.


Diferentes teorias de dor e sofrimento.

A primeira das teorias sobre a dor e o sofrimento que encontramos no curso do desenvolvimento histórico da filosofia pertence à escola epicurista . Epicuro de Samos, no século IV aC  foi o fundador da escola que leva seu nome. Sua proposta para alcançar uma vida boa e feliz era ataraxia, que traduzimos como indiferença ou despreocupação . E a felicidade é a busca do prazer e sinônimo de ausência de dor ou sofrimento. Ele argumentou que : Todos os seres vivos buscam os prazeres e fogem da dor. Da dor se foge. E em uma carta a Meneceu, Epicuro expressa: "a morte é algo que não nos afeta quando vivemos, porque a morte não existe, e quando a morte estiver lá , não estaremos. Assim, a morte é algo que não tem nada a ver com os vivos ou com os mortos." No fundo sua evasão hedonista de prevenção a dor era uma proposta de se retirar da vida social para encontrar-se consigo mesmo e com um grupo de amigos.

A segunda teoria é apoiada pelos estoicos. Escola fundada por Zenão de Cítio e seu continuador Crísipo, também do século IV aC mantendo a simplicidade e sobriedade de vida, onde o homem é um microcosmo e o princípio o supremo é viver de acordo com a natureza e razão através apatheia = impassibilidade. A dor é suportada. A dor e o sofrimento surgem quando este princípio é quebrado. A felicidade está ligada à virtude e o sofrimento ao vício.

Foi a escola mais admirada pelos romanos onde Sêneca, o Imperador Marco Aurélio e Epicteto, um escravo, são os seus principais representantes. A escola teve uma grande influência sobre o cristianismo através dos Padres da Igreja .

A terceira das teorias de dor encontramos em Buda e seus seguidores que interpretam a dor como punição para os erros da vida anterior. A existência é dor e todo sofrimento é ilusório. O remédio para a dor é a separação dos desejos que o individualizam e a imersão no non voluntas, o nirvana, onde o eu individual apaga-se. 

Ao não haver o "eu" não há o sujeito para a dor. Em uma palavra se impede a dor eliminando a resistência à dor. O princípio da tolerância passiva, da não-resistência ao mal ou à dor que o hinduísmo mais tarde desenvolve através da Yoga. Influenciado por essa escola o filósofo Arthur Schopenhauer define a dor e o sofrimento como uma vontade contrariada [2]

Outra teoria de dor é descrita no Velho Testamento e toda a tradição Vétero testamentaria posteriormente  ver a dor e o sofrimento como castigo. Se realiza na terra a justiça divina de reparação dos pecados pela dor como castigo. Sua formação se encontra na Lei judia de Talião: olho por olho, dente por dente.

Finalmente, temos a teoria da dor pelas raízes cristãs, onde o sofrimento e a dor têm um novo significado, não como punição, mas como purificação, pelo qual Deus, em sua infinita misericórdia , envia a dor e o sofrimento como um amigo do peito.
A purificação não deve ser entendida como uma indulgência e o sofrimento como com algofilia ou masoquismo, mas a separação entre o verdadeiro e o falso, descartando-se lentamente a parte inferior da superior, o valor do desvaloroso, o impuro do puro, no centro de nosso ser.

Ascese cristã como uma forma de saber suportar a dor pelo sacrifício pessoal está subordinado à virtude do amor, não obstante o sofrimento em si mesmo não aproxima a Deus o cristão, mas é o homem de fé, de pistis, que tem crédito ( pisteos ) para se alegrar diante de Deus, o que pode de maneira adequada suportar a dor e o sofrimento.

Essas cinco teorias de dor nos mostram aqui, mutatis mutandias respostas que temos à mão do mundo de hoje . Epicuristas representam sociedade de consumo em grande parte capitalistas que colocam a felicidade na posse de coisas e bens. Os estoicos são representados por aqueles sem uma visão transcendente da vida, como os ambientalistas , colocar a felicidade em equilíbrio com a natureza . Ou o que foi o herói do século XIX , um homem cujo único poder era a sua força moral, a capacidade de superar seus próprios medos . Redução de consciência, o eu essencial é desassociado de seu corpo, e o próprio corpo tornou-se o assunto por si. [3]

A teoria hindu-budista, com a anulação pelo nirvana pessoal, que não faz distinção entre o sofrimento nobre e ignóbil, é assumida, em geral, pelo mundo oriental. A visão Vétero é representada por um grupo pequeno, mas poderoso, que vê na compensação econômica o pago para a dor, como castigo. ( Ex. empresas de seguros, bancos , grandes corporações , etc. ).
Finalmente, o conceito cristão de dor, lentamente, tem vindo a perder-se de vista por causa do avanço imparável de visões hedonistas e materialistas da vida. O crédito, como observa Giorgio Agamben, tem substituído a Deus, e a sua forma pura é dinheiro.




[1] Scheler, Max: El sentido del sufrimiento, Ed. Goncourt, Bs.As., 1979, p.23
[2] Schopenhauer, Arturo: El amor, las mujeres y la muerte, Ed. Safián, Bs.As.,1957, p. 76: Si nuestra existencia no tiene por fin inmediato el dolor, puede afirmarse que no tiene ninguna razón de ser en el mundo.
[3] Jünger, Ernst: Sobre el dolor, Ed. Tusquets


Trecho retirado de Disenso 
http://disenso.info/archivos/2207



sábado, 8 de março de 2014

A tradição vivifica [por Gustavo Barroso]


Tradição é uma coisa; saudosismo, outra. A tradição vivifica; o saudosismo mata. A tradição é um olhar que se deita para trás, a fim de buscar inspiração no que os nossos maiores fizeram de grande e imitá-los ou superá-los. O saudosismo é o olhar condenado da mulher de Lot, que transforma em estátua de sal. A tradição é um impulso que vem do fundo das idades mortas dado pelas grandes ações dos que permanecem vivos no nosso culto patriótico. O saudosismo é um perfume de flores fanadas que envenena e enerva. A tradição educa. O saudosismo esteriliza.

Amar as tradições da terra, da raça, dos heróis é buscar nos exemplos do passado a fé construtiva do futuro. Mergulhar dentro delas para carpir a pequenez do presente diante de sua grandeza é confessar a própria impotência e a própria incapacidade.

Da tradição nos vêm gritos de incitamento. Do saudosismo nos vêm lamentos e jeremiadas. Uma nação se constrói com aqueles gritos e se perde com essas lamentações.




[IN: GUSTAVO BARROSO, "Espírito do século XX", Rio de Janeiro, Civilização Brasileira S/A, 1936]

domingo, 2 de março de 2014

100 escólios de Nícolas Gómez Dávila.



A ciência enriquece a inteligência, já a literatura enriquece a personalidade inteira.

As verdades não se contradizem senão quando se desordenam.

O progressista acredita que tudo torna-se obsoleto brevemente, salvo suas ideias

A relatividade do gosto é desculpa que adotam as épocas que possuem mau gosto.

Quando miramos alto não há público capaz de dizer se acertamos.

Quem vive largos anos assiste a derrota de sua causa.

O que a imaginação não completa é mero fragmento da realidade.

Um livro é medíocre quando é possível definir sua excelência.

A época de liberação sexual reduz a uns poucos gritos de espasmos as ricas modulações da sensualidade humana.

O homem atual admira apenas os textos histéricos.

A superficialidade consiste, basicamente, no ódio às contradições da vida.

O impacto de um texto é proporcional à astúcia de suas reticências.

Não há verdade que não seja lícito estrangular se há de ferir a quem amamos.

O sacrifício da profundidade é o preço que exige a eficácia.

Já não existem anciões senão jovens decrépitos.

A inveja não é vício de pobre, mas de rico. Do menos rico ante o mais rico.

O cinismo não é indício de agudeza mas de impotência.

As duas asas da inteligência são a erudição e o amor.

A imaginação não é o lugar onde a realidade se falsifica, mas onde se cumpre.

A vulgaridade não é um produto popular senão um subproduto da prosperidade
burguesa.

A ideia perigosa não é a falsa, senão a parcialmente correta.

A vocação genuína faz o escritor escrever apenas para si mesmo. Primeiro por orgulho, depois por humildade.

O que significa a beleza de um poema não tem relação alguma com o que o
poema significa.

A influência não enriquece senão os espíritos originais.

Nada que não possua valor se distingue do que o possua senão pelo próprio valor.

Para renovar não é necessário contradizer, mas aprofundar.


A verdade é uma maneira de pensar e de sentir.

A pessoa que não seja algo absurda resulta insuportável.

A inteligência não consiste no manejo de idéias inteligentes, mas no manejo
inteligente de qualquer ideia.

Toda reta leva direto a um inferno.

As “soluções” são as ideologias da estupidez.

A crença na solubilidade fundamental dos problemas é característica própria ao
mundo moderno. Que todo antagonismo de princípios é simples equívoco, que
haverá aspirina para toda cefaléia.

A ética deve ser a estética da conduta.

Se o burguês de ontem comprava quadros porque seu tema era sentimental ou
pitoresco, o burguês de hoje não os compra quando têm tema pitoresco ou
sentimental. O tema segue vendendo o quadro.

Todo o que faça sentir ao homem que o mistério o envolve torna-o mais
inteligente.

Ensinar exime da obrigação de aprender.

O otimismo inteligente nunca é fé no progresso, mas esperança no milagre.

O homem inteligente costuma fracassar, porque não se atreve a crer no
verdadeiro tamanho da estupidez humana. A verdade está na história, mas a história não é a verdade.

Educar a alma consiste em ensinar-lhe a transformar em admiração sua inveja.

Crer é penetrar nas entranhas do que meramente sabíamos.

O pior vício da crítica de arte é o abuso metafórico do vocabulário filosófico.

A hipocrisia não é a ferramenta do hipócrita, senão sua prisão.

Só o imbecil não se sente nunca co-partidário de seus inimigos.

A imparcialidade é filha da preguiça e do medo.

O amor à pobreza é cristão, mas a adulação ao pobre é mera técnica de
recrutamento eleitoral.

A estatística é a ferramenta daquele que renuncia a compreender para poder
manipular.

A grandiloqüência das teorias estéticas cresce com a mediocridade das obras,
como a dos oradores com a decadência de sua pátria.

O ironista desconfia do que diz sem crer que o contrário seja certo.

Temos necessidade de que nos contradigam para afinarmos nossas idéias.

A literatura toda é contemporânea para o leitor que sabe ler.

A prolixidade não é excesso de palavras, mas sim escassez de idéias.

O homem mais desesperado é somente o que melhor esconde sua esperança.

Dos seres que amamos sua existência nos basta.

Quem critica ao burguês recebe duplo aplauso: o do marxista, que nos julga
inteligentes porque corroboramos seus prejuízos; o do burguês, que nos julga
acertados porque pensa em seu vizinho.

Vencer a um idiota nos humilha.

Como pode viver quem não espera milagres?

Pensar que só importam as coisas importantes é sintoma de barbárie.

Vivemos porque não nos vemos com os olhos que os demais nos vêem.

Entre a anarquia dos instintos e a tirania da ordem, estende-se o fugitivo e puro
território da perfeição humana.

O tom professoral não é próprio do que sabe, senão do que tem dúvidas.

Ninguém pensa seriamente enquanto a originalidade lhe importa.

A “psicologia” é, propriamente, o estudo do comportamento burguês.

Amor é o ato que transforma a seu objeto de coisa em pessoa.

O homem vive a si mesmo como angústia ou como criatura.

O estado moderno fabrica as opiniões que recolhe depois respeitosamente
com o nome de opinião pública.

Amar é compreender a razão que teve Deus para criar ao que amamos.

Amar é rondar sem descanso em torno da impenetrabilidade de um ser.

A ideia inteligente produz um prazer sensual

“Encontrar-se”, para o moderno, quer dizer dissolver-se em uma coletividade
qualquer.

Os problemas metafísicos não acossam ao homem para que os resolva mas
para que os viva.

A feiúra do rosto moderno é um fenômeno ético.

Chamam-se progressos os preparativos das catástrofes.

A sensibilidade não projeta uma imagem sobre o objeto, mas uma luz.

A função didática do historiador está em ensinar a toda época que o mundo
não começou com ela.

Aprender a morrer é aprender a deixar morrer os motivos de esperar sem
deixar morrer a esperança.

A poesia resgata as coisas ao reconciliar na metáfora a matéria com o espírito.

Uma resenha de literatura contemporânea nunca permite saber se o crítico crer
viver no meio de gênios ou se prefere não ter inimigos.

O inimigo de uma civilização é menos um adversário externo que o interno desgaste.

Se costuma apregoar direitos para poder violar deveres.

O anonimato da sociedade moderna obriga a todo o mundo a pretender-se
importante.
Ao divorciar-se religião e estética não se sabe qual se corrompe mais 
depressa. 
• 
Os museus são o castigo do turista. 
• 
Problema que não seja econômico não parece digno, em nosso tempo, de 
ocupar um cidadão sério. 
• 
O moderno não tem vida interior: apenas conflitos internos. 
• 
A lei é o método mais fácil de exercer a tirania. 
• 
Só o inesperado satisfaz plenamente. 
• 
A vida é um combate cotidiano contra a estupidez própria. 
• 
O individualismo é o berço da vulgaridade. 
• 
A estupidez se apropria com facilidade do que a ciência inventa. 
• 
A literatura que diverte o que a faz, emburrece quem a lê.
Inteligência não aspira a libertar-se, mas a submeter-se. A verdade é o resplendor da necessidade.
A burguesia é todo conjunto de indivíduo inconformados com o que possuem, mas satisfeito com o que são.
Ao repudiar os ritos, o homem se reduz a animal que copula e come. 
• 
As pessoas sem imaginação nos congelam a alma. 
• 
Só a religião pode ser popular sem ser vulgar. 
A fé não é uma convicção que possuímos, mas uma convicção que nos possui. 
• 
Os ritos preservam a fé, os sermões minam a fé. 
• 
O calor humano em uma sociedade diminui à medida que sua legislação se 
aperfeiçoa. 
• 
A moda, mais ainda que a técnica, é causa da uniformidade do mundo 
moderno. 
• 
O homem moderno destrói mais quando ele constrói do que quando ele destrói.



[In: DÁVILA, Nícolas Gómez. Escolios a un texto implícito (selección)