quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Rachel de Queiroz - a dama sertaneja das letras

Rachel de Queiroz,  Foto: Edu Simões (1997)
"Doer, dói sempre. 
Só não dói depois de morto. 
Porque a vida toda é um doer."
- Rachel de Queiroz, in "Dôra, Doralina: 
romance". José Olympio Editora, 1984.




"A vida eu acho que ensina surrando..."


Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendendo, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar (sua bisavó materna — "dona Miliquinha" — era prima José de Alencar, autor  de "O Guarani"), e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, onde residiam e seu pai era Juiz de Direito nessa época.

Em 1913, voltam a Fortaleza, face à nomeação de seu pai para o cargo de promotor. Após um ano no cargo, ele pede demissão e vai lecionar Geografia no Liceu. Dedica-se pessoalmente à educação de Rachel, ensinando-a a ler, cavalgar e a nadar. Aos cinco anos a escritora leu "Ubirajara", de José de Alencar, "obviamente sem entender nada", como gosta de frisar.

Fugindo dos horrores da seca de 1915, em julho de 1917 transfere-se com sua família para o Rio de Janeiro, fato esse que seria mais tarde aproveitado pela escritora como tema de seu livro de estréia, "O Quinze".

Logo depois da chegada, em novembro, mudam-se para Belém do Pará, onde residem por dois anos. Retornam ao Ceará, inicialmente para Guaramiranga e depois Quixadá, onde Rachel é matriculada no curso normal, como interna do Colégio Imaculada Conceição, formando-se professora em 1925, aos 15 anos de idade. Sua formação escolar pára aí.

Rachel retorna à fazenda dos pais, em Quixadá. Dedica-se inteiramente à leitura, orientada por sua mãe, sempre atualizada com lançamento nacionais e estrangeiros, em especial os franceses. O constante ler estimula os primeiros escritos. Envergonhada, não mostrava seus textos a ninguém.

Em 1926, nasce sua irmã caçula, Maria Luiza. Os outros irmãos eram Roberto, Flávio e Luciano, já falecidos).

Raquel de Queiroz
Com o pseudônimo de "Rita de Queluz" ela envia ao jornal "O Ceará", em 1927, uma carta ironizando o concurso "Rainha dos Estudantes", promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta a convida para colaborar com o veículo. Três anos depois, ironicamente, quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita a "Rainha dos Estudantes". Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local, com uma única explicação "Sou repórter".

Seu pai adquiri o Sítio do Pici, perto de Fortaleza, para onde a família se transfere. Sua colaboração em "O Ceará" torna-se regular. Publica o folhetim "História de um nome" — sobre as várias encarnações de uma tal Rachel — e organiza a página de literatura do jornal.

Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, face a uma congestão pulmonar e suspeita de tuberculose, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever "um livro sobre a seca". "O Quinze" — romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca — é mostrado aos pais, que decidem "emprestar" o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, sendo elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel numa personalidade literária. Com o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora "paga" o empréstimo dos pais.

Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, mantida pelo escritor, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura). Conhece integrantes do Partido Comunista; de volta a Fortaleza ajuda a fundar o PC cearense.

Casa-se com o poeta bissexto José Auto da Cruz Oliveira, em 1932. É fichada como "agitadora comunista" pela polícia política de Pernambuco. Seu segundo romance, "João Miguel", estava pronto para ser levado ao editor quando a autora é informada de que deveria submetê-lo a um comitê antes de publicá-lo. Semanas depois, em uma reunião no cais do porto do Rio de Janeiro, é informada de que seu livro não fora aprovado pelo PC, porque nele um operário mata outro. Fingindo concordar, Rachel pega os originais de volta e, depois de dizer que não via no partido autoridade para censurar sua obra, foge do local "em desabalada carreira", rompendo com o Partido Comunista.

Raquel de Queiróz
Publica o livro pela editora Schmidt, do Rio, e muda-se para São Paulo, onde se aproxima do grupo trotskista.

Nasce, em Fortaleza, no ano de 1933, sua filha Clotilde.

Muda-se para Maceió, em 1935, onde faz amizade com Jorge de Lima, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Aproxima-se, também, do jornalista Arnon de Mello (pai do futuro presidente da República, Fernando Collor, que a agraciou com a Ordem Nacional do Mérito). Sua filha morre aos 18 meses, vítima de septicemia.

O lançamento do romance "Caminho de Pedras", pela José Olympio - Rio, se dá em 1937, que seria sua editora até 1992. Com a decretação do Estado Novo, seus livros são queimados em Salvador - BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. Permanece detida, por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza.

Em 1939, separa-se de seu marido e muda-se para o Rio, onde publica seu quarto romance, "As Três Marias".

Por intermédio de seu primo, o médico e escritor Pedro Nava, em 1940 conhece o também médico Oyama de Macedo, com quem passa a viver. O casamento duraria até à morte do marido, em 1982. A notícia de que uma picareta de quebrar gelo, por ordem de Stalin, havia esmigalhado o crânio de Trótski faz com que ela se afaste da esquerda.

Deixa de colaborar, em 1944, com os jornais "Correio da Manhã", "O Jornal" e "Diário da Tarde", passando a ser cronista exclusiva da revista "O Cruzeiro", onde permanece até 1975.

Estabelece residência na Ilha do Governador, em 1945.

Seu pai vem a falecer em 1948, ano em que publica "A Donzela e a Moura Torta". No ano de 1950, escreve em quarenta edições da revista "O Cruzeiro" o folhetim "O Galo de Ouro".

Rachel de Queiroz
Sua primeira peça para o teatro, "Lampião", é montada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e no Teatro Leopoldo Fróes, em São Paulo, no ano de 1953. É agraciada, pela montagem paulista, com o Prêmio Saci, conferido pelo jornal "O Estado de São Paulo".

Recebe, da Academia Brasileira de Letras, em 1957, o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra.

Em 1958, publica a peça "A beata Maria do Egito", montada no Teatro Serrador, no Rio, tendo no papel-título a atriz Glauce Rocha.

O presidente da República, Jânio Quadros, a convida para ocupar o cargo de ministra da Educação, que é recusado. Na época, justificando sua decisão, teria dito: "Sou apenas jornalista e gostaria de continuar sendo apenas jornalista."

O livro "As Três Marias", com ilustrações de Aldemir Martins, em tradução inglesa, é lançado pela University of Texas Press, em 1964.

O presidente general Humberto de Alencar Castelo Branco, seu conterrâneo e aparentado, no ano de 1966 a nomeia para ser delegada do Brasil na 21ª. Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, junto à Comissão dos Direitos do Homem.

Passa a integrar o Conselho Federal de Cultura, em 1967, e lá ficaria até 1985. Depois de visitar a escritora na Fazenda Não me Deixes, em Quixadá, o presidente Castelo Branco morre em desastre aéreo.

Estréia na literatura infanto-juvenil, em 1969, com "O Menino Mágico", em 1969.

No ano de 1975, publica o romance "Dôra, Doralina".

Em 1977, por 23 votos a 15, e um em branco, Rachel de Queiroz vence o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda e torna-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras. A eleição acontece no dia 04 de agosto e a posse, em 04 de novembro.  Ocupa a cadeira número 5, fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada sucessivamente pelo médico Oswaldo Cruz, o poeta Aluísio de Castro e o jurista, crítico e jornalista Cândido Mota Filho.

Rachel de Queiroz
Seu livro, "O Quinze", é publicado no Japão pela editora Shinsekaisha e na Alemanha pela Suhrkamp, em 1978.

Em 1980, a editora francesa Stock lança "Dôra, Doralina". Estréia da Rede Globo de Televisão a novela "As Três Marias", baseada no romance homônimo da escritora.

Com direção de Perry Salles, estréia no cinema a adaptação de "Dôra, Doralina", em 1981.

Em 1985, é inaugurada em Ramat-Gau, Tel Aviv (Israel), a creche "Casa de Rachel de Queiroz". "O Galo de Ouro" é publicado em livro.

Retorna à literatura infantil, em 1986, com "Cafute & Perna-de-Pau".

A José Olympio Editora lança, em 1989, sua "Obra Reunida", em cinco volumes, com todos os livros que Rachel publicara até então destinados ao público adulto.

Segundo notícia que circulou em 1991, a Editora Siciliano, de São Paulo, pagou US$150.000,00 pelos direitos de publicação da obra completa de Rachel.

Já na nova editora, lança em 1992 o romance "Memorial de Maria Moura".

Em 1993, recebe dos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões e da União Brasileira de Escritores, o Juca Pato. A Siciliano inicia o relançamento de sua obra completa.

1994 marca a estréia, na Rede Globo de Televisão, da minissérie "Memorial de Maria Moura", adaptada da obra da escritora. Tendo no papel principal a atriz Glória Pires, notícias dão conta que Rachel recebeu a quantia de US$50.000,00 de direitos autorais.

Inicia seu livro de memórias, em 1995, escrito em colaboração com a irmã Maria Luiza, que é publicado posteriormente com o título "Tantos anos".

Pelo conjunto de sua obra, em 1996, recebe o Prêmio Moinho Santista.

Rachel de Queiroz
Em 2000, é publicado "Não me Deixes — Suas histórias e sua cozinha", em colaboração com sua irmã, Maria Luiza.

Em novembro deste ano, quando a escritora completou 90 anos de idade, foi inaugurada, na Academia Brasileira de Letras, a exposição "Viva Rachel". São 17 painéis e um ensaio fotográfico de Eduardo Simões resumindo o que os organizadores da mostra chamam de “geografia interior de Rachel, suas lembranças e a paisagem que inspirou a sua obra”.

Rachel de Queiroz chega aos 90 anos afirmando que não gosta de escrever e o faz para se sustentar. Ela lembra que começou a escrever para jornais aos 19 anos e nunca mais parou, embora considere pequeno o número de livros que publicou. “Para mim, foram só cinco, (além de O Quinze, As Três Marias, Dôra, Doralina, O Galo de Ouro e Memorial de Maria Moura), pois os outros eram compilações de crônicas que fiz para a imprensa, sem muito prazer de escrever, mas porque precisava sustentar-me”, recorda ela. “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”.

Recebe, em 06-12-2000, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Em 2003, é inaugurado em Quixadá (CE), o Centro Cultural Rachel de Queiroz.

Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro. Deixou, aguardando publicação, o livro "Visões: Maurício Albano e Rachel de Queiroz", uma fusão de imagens do Ceará fotografadas por Maurício com textos de Rachel de Queiroz.
Fonte: Releituras

"...da inocência da infância até à velhice extrema, continuará exatamente assim, só atribuindo interesse e grandeza àquilo que está a serviço da sua pessoa e da sua importância."
- Rachel de Queiroz, in "Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas", Editora Siciliano, 1994.


"Fala-se muito na crueldade e na bruteza do homem medievo. Mas o homem moderno será melhor?"
- Rachel de Queiroz, in "As terras ásperas". Editora Siciliano,1993.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O Folclore nas Culturas Brasileira e Galega – há algo em comum?



 

 Luiz Claudio Santa Maria
Aluno de Língua Galega e Introdução à Cultura Galega na UERJ

Define-se folclore como o conjunto das criações de uma comunidade cultural, baseadas nas tradições de um grupo ou de indivíduos, que expressam sua identidade, além dos costumes e valores que são transmitidos oralmente, passando de geração em geração.
No Brasil, há diversas manifestações folclóricas relacionadas a mitos e lendas, que, muitas vezes, nascem da pura imaginação das pessoas, principalmente dos moradores das regiões do interior do Brasil. Muitas destas histórias foram criadas para passar mensagens importantes ou apenas para assustar as pessoas. Estes tipos de manifestação cultural podem ser divididos em lendas e mitos. Muitos deles deram origem às festas populares, que ocorrem pelos quatro cantos do país.
As lendas são histórias contadas por pessoas e transmitidas oralmente através dos tempos. Misturam fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da fantasia. As lendas procuraram dar explicação a acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.
Os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico. Como os povos da antiguidade não conseguiam explicar os fenômenos da natureza, através de explicações científicas, criavam mitos com este objetivo: dar sentido às coisas do mundo. Os mitos também serviam como uma forma de passar conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos ou defeitos e qualidades do ser humano. Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturam com fatos da realidade para dar sentido à vida e ao mundo.
Por mais distantes que possa parecer geograficamente, a Galícia e o Brasil guardam semelhanças impressionantes nas suas manifestações folclóricas. Podemos justificar/explicar essas semelhanças por dois aspectos: a) proximidades geográfica e cultural entre Galegos e Portugueses, que trouxeram com eles aspectos culturais afins para o Brasil; b) os povos (brasileiro e galego) são de origem essencialmente cristã e isso é verificado nas semelhanças entre as manifestações folclóricas de origens religiosas.
A seguir, serão apresentados alguns aspectos relacionados às manifestações folclóricas que apresentam pontos de interseção entre as duas culturas, a galega e a brasileira.
Folia de Reis
No Brasil, principalmente em cidades do interior do nordeste e de Minas Gerais, a partir do Natal, durante 12 dias, até o dia 6 de janeiro, o Alferes da Folia (chefe dos foliões) bate à porta das casas, bem cedo, seguido dos palhaços do Reisado e de seus instrumentos barulhentos. Vai despertar quem está dormindo, pedir permissão para entrar, tomar café e recolher dinheiro para a Folia de Reis. É uma festa popular de origem portuguesa que ainda sobrevive em pequenas cidades brasileiras. Nessa festa, oferece-se uma bandeira colorida, enfeitada com fitas e santinhos, enquanto, do lado de fora, os palhaços vão dançar ao som do violão, do pandeiro, do cavaquinho, recitando versos. Esta festa comemora o nascimento de Cristo, lembrando a viagem que os três reis magos – Baltazar, Belchior e Gaspar – fizeram a Belém para encontrar o Menino Jesus.   Os palhaços, vestidos a caráter e cobertos por máscaras, representam os soldados do rei Herodes, em Jerusalém. Os foliões abrem alas com uma bandeira, que – dizem! – é abençoada e protege das más influências. Depois de 12 dias de jornada, o dinheiro arrecadado é gasto em comidas e bebidas para todos.
As festas do Nadal en Galicia comparten rituais coa mesma festividade de Nadal noutros lugares, aínda que se poden destacar algunhas peculiaridades. Comprenden diferentes celebracións entre os días 24 de decembro e o 6 de xaneiro e teñen como eixo a conmemoración do nacemento de Xésus, malia que os etnógrafos concordan en que as verdadeiras raíces son moi anteriores e están relacionadas co solsticio de inverno sobre as que houbo unha superposición relixiosa. A tradicional cabalgata de Reis celébrase o 5 de xaneiro, cun desfile de impactantes carrozas e co seu séquito que percorren as rúas da cidade ata chegar ao Pazo de Raxoi, na praza do Obradoiro, onde os Magos de Oriente reciben os máis pequenos.
Outro exemplo de semelhança em atividades religiosas é verificado no costume de fazer tapetes coloridos de sal e material vegetal (folhas, flores, serragem etc.) nas festas religiosas como Corpus Christis.
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Alfombras florais na festa de Corpus en Ponteareas, Galicia
Corpus Christis em Minas Gerais
Corpus Christis em Minas Gerais
Há claras semelhanças em danças folclóricas, como se pode verificar nas duas figuras abaixo.
 Pau de fitas na Galícia

Pau de fitas na Galícia
Pau de fita em Itajaí, Santa Catarina
Pau de fita em Itajaí, Santa Catarina
De origem Ibérica, a Dança do Pau de Fitas é uma dança de roda, que envolve um mastro enfeitado, de aproximadamente 3 metros, e longas fitas multicoloridas, que são presas em seu topo, respeitando o número de pessoas que participarão. O Pau de Fitas consiste numa brincadeira sem necessidade de grandes recursos, sendo assim, sobrevive apenas da boa vontade de seus participantes e de sua comunidade. O importante do Pau de Fitas é que ele seja feito sempre em número par, para que o trançado das fitas dê certo. Durante a dança, os participantes vão se movimentando em ziguezague, trançando as fitas no mastro até que fique impossível prosseguir. Após o trançado, é feito o movimento contrário, destrançando as fitas. Todos esses movimentos são seguidos de acordo com o ritmo de instrumentos musicais, como sanfona, violão e pandeiro. De acordo com a coreografia, é possível realizar vários tipos diferentes de trançado, formando diferentes tipos de desenhos. Em Santa Catarina existem os trançados “Tramadinho”, “Trenzinho”, “Zigue-Zague”, “Zigue-Zague a dois”, “Feiticeira” e a “Rede de Pescador”. A vestimenta dos participantes é bastante simples: de caráter junino, as mulheres usam vestidos com estampas floridas e alegres, sandálias de sola e flores no cabelo. Já os rapazes usam camisa quadriculada ou xadrez, calça, chapéu na cabeça e sandália de sola.
O Maracatu
Esse ritmo é visto no Carnaval. Nele, reis, rainhas, princesas, índios emplumados e baianas cruzam as ruas do Recife (Pernambuco), dançando, pulando, passando de mão em mão as bonecas de pano vestidas (conhecidas como calungas), em geral, de branco e cobertas com um manto azul.
O maracatu é um ritmo frenético que teve origem nas Congadas, cerimônias de escolha e coroação do rei e da rainha da “nação” negra.
Atrás da folia vai a procissão. Manifestações semelhantes são vistas em Goiás (Aruendas), no Rio de Janeiro (Afoxés), e em Pernambuco, os Maracatus. A coroação dos reis do Congo já era realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Recife, em 1674. Contudo, cada paróquia ou comarca tinha sua própria “corte”, e a elas cabia escolher seu rei. A coroação e posse do rei dos negros aconteciam em Pernambuco, em março. Nessa mesma época, o Rio de Janeiro dividia-se em diferentes “nações” de negros para comemorar o fato. Dançavam e entoavam cantos africanos ao som de instrumentos primitivos. No início do século XX, as calungas, representando ancestrais africanos, passaram a marcar mais presença na procissão. Alguns instrumentos novos também foram incluídos: o clarinete, o pistom e o trombone. Aos primeiros acordes do maracatu, a rainha ergue a calunga para abençoar a “nação”.
A bandeirista encarrega-se do estandarte e a banda, de acertar o ritmo das músicas (chamadas de loas) entoadas pelo mestre que comanda o maracatu com seu apito. Atrás vêm os personagens, equilibrando sobre a cabeça chapéus imensos, com mais de 1 metro de altura.  Suas evoluções são feitas em círculos. O rei, a rainha, as baianas, os caboclos-de-lança e os caboclos-de-pena seguem a procissão, recitando versos que evocam histórias regionais. Até que a Quarta-feira de Cinzas apague tudo!
Embora essa manifestação folclórica tenha grande influência da cultura negra africana aqui no Brasil, há na Galícia diversas atividades que se assemelham pelas vestimentas e atividades.
Cigarrón no val de Verín: A máscara máis característica e arcaica da Comarca de Monterrei é a do Cigarrón no val de Verín. Consta esta máscara dunha carauta de pau traballada en madeira e pintada de xeito que nela resalten as cellas, as sonrosadas meixelas, amplo bigote, cínico sorriso mostrando a dentadura e barba falsa.
Entroido de Verín ou carnaval é unha festa de carácter tradicional que se celebra entre os meses de febreiro e marzo, coincidindo co período inmediatamente anterior á Coresma e que se celebra principalmente en rexións de tradición católica e con menos extensión en zonas ortodoxas e moi modificado nalgunhas áreas protestantes, como é o caso do Fastelavn nalgúns dos países nórdicos. O entroido celébrase tamén en Galiza con características particulares, con disfraces e esmorgas moi diferenciadas entre diversas poboacións: son coñecidos os entroidos de Xinzo de Limia, Laza, Verin, Vila de Cruces, A Estrada, Vilaboa e outros moitos, algúns dos cales están cualificados de festas de interés turístico nacional polo Ministerio de Industria, Turismo e Comercio.  
É possível perceber as semelhanças nas roupas e nas atividades como ilustrado nas imagens a seguir.
Entroido de Verín
Entroido de Verín
Entroido en Galícia
Entroido en Galícia
Maracatu - Pernambuco
Maracatu – Pernambuco
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Há semelhanças também no uso de bonecos imensos, como se pode observar nas figuras abaixo.
Galícia: Encontro de Xigantes e Cabezudos, em Ourence
Galícia: Encontro de Xigantes e Cabezudos, em Ourence
Em Olinda, Pernambuco, durante os desfiles de carnaval, são vistos os grandes bonecos, que representam desde personagens famosas a pessoas do povo.
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No carnaval, os Bate-bolas, ou Clóvis, são vistos como manifestação popular nos subúrbios do Rio de Janeiro, que muito se assemelham aos Pantallas da Galícia.
Típico Clóvis (Bate-Bola) nas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro (Realengo, Madureira, Bento Ribeiro etc.) – esses personagens não falam, fazem barulho com apitos, batem bolas (de bexiga de porco ou de plástico) no chão para assustar as crianças.
Típico Clóvis (Bate-Bola) nas ruas do subúrbio do Rio de Janeiro (Realengo, Madureira, Bento Ribeiro etc.) – esses personagens não falam, fazem barulho com apitos, batem bolas (de bexiga de porco ou de plástico) no chão para assustar as crianças.
Pantallas da Limia
Pantallas da Limia
Nesses vídeos abaixo, vê-se claramente que há uma semelhança muito grande na manifestação folclórica galega dos Pantallas e os Bate-bolas do Rio de Janeiro. No primeiro vídeo, há inclusive uma voz de comando para que os Pantallas assustarem as crianças, mas essa voz é de um homem que não está fantasiado, pois assim como aqui esses personagens não falam.
Galícia, Limia:
Rio de Janeiro, subúrbio, Brasil

A Festa do Divino
Contando-se sete semanas depois do Domingo de Páscoa: é o dia de Pentecostes, data em que a Igreja Católica comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. A Festa do Divino é uma tradição trazida pelos jesuítas do Reino de Portugal, onde D. Isabel, esposa do Rei D. Diniz, mandou construir, no século XIV, uma igreja em Alenquerem louvor ao Espírito Santo.
Os festejos começam no final de maio com novenas, quermesses e muita música. Danças folclóricas como: as Catiras (dança com cantos, sapateado e palmas), congadas e moçambiques (dança de origem africana), se sucedem, enquanto uma comitiva vai de casa em casa pedir donativos. Durante a festa, a bandeira do Divino é hasteada.
No dia de Pentecostes, ganham vida os personagens que simbolizam o imperador, sua esposa e os membros da Corte. Há também aqueles que representam os dons e os frutos do Espírito Santo, os apóstolos e a Virgem Maria. As crianças formam a Roda dos Anjos e levam o estandarte do Divino. Atrás vão os bonecos gigantes: João Paulino, sua mulher Maria Angu e a velha faladeira Miota. No encerramento, 24 homens a cavalo opõem os mouros e os cristãos. Depois, é sentar-se à mesa, pois será servido um cozido de carne com arroz e farinha de mandioca. O vídeo mostra um momento dessa manifestação cultural.

Repentes

Repente (conhecido também como desafio) é uma tradição folclórica brasileira cuja origem remonta aos trovadores medievais. Especialmente forte no nordeste brasileiro, é uma mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso – a criação de versos “de repente”. O repente possui diversos modelos de métrica e rima, e seu canto costuma ser acompanhado de instrumentos musicais. Quando o instrumento usado é o pandeiro, o repente é chamado de coco de embolada; acompanhado de viola caipira ou de rabeca, denomina-se Cantoria; cantado sem acompanhamento musical, nomeia-se entoada, toada ou aboio.
Embora os repentes sejam mais presentes na cultura nordestina, há manifestações deste tipo também no sul do Brasil. O repentismo no sul do Brasil se caracteriza, além do improviso, pelo uso de dois instrumentos musicais: o violão e a acordeon, sendo que, no final, os trovadores sempre fazem as “pazes”. Nos anos 60 – 80, essa variação folclórica foi muito popular na região sul do Brasil, chamada de Trova, muito difundida por Teixeirinha & Mary Terezinha, juntos eles trovaram inúmeras vezes, alegrando não só os gaúchos, mas todo o povo brasileiro. Contudo a maior referência para os trovadores da atualidade no Rio Grande do Sul é Gildo de Freitas. Além da Trova, também existe no Rio Grande do Sul a Pajada, cujo maior representante é Jayme Caetano Braun, seguido por Paulo de Freitas Mendonça e outros. A Pajada é poesia oral improvisada em Décima Espinela (abbaaccddc) no etilo recitado e acompanhada de violão. A trova é uma construção poética improvisada em sextilha. Suas rimas são abcbdb e seus versos são cantados ao acompanhamento de acordeon.
Na Galícia, existem as “regueifas”, que se assemelham aos repentes. 
A tradición oral galega, As regueifas son outra das tradicións musicais de Vigo, unha herdanza secular galega. Nelas ponse a proba a famosísima retranca galega, xa que unha regueifa non é máis que un diálogo cantado, sempre improvisado, no que o ‘pique’, a ironía e sobre todo o bo humor son os reis da rima. As regueifas son desafíos en verso onde dúas ou máis persoas disputan utilizando a retranca, o humor e moito enxeño e creatividade, procurando manter sempre unha cadencia rítmica nas frases e rimas finais. Trátase dunha das mostras máis singulares da tradición oral galega, moi parecidas ao que é hoxe o hip-hop, polo que os regueifeiros serían os rapeiros da actualidade, que improvisan cunha grande facilidade e rapidez.

Bibliografia e sites consultados
Cultura popular e educação, Organização René Marc da Costa Silva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 2008.